A História da Angela e seus 86 Filhinhos

No dia 15 de julho deste ano a proteção animal perdeu uma de suas ativistas e guerreiras, Angela Spregacini.

Angela é antiga conhecida no meio da proteção animal. Eu mesma nunca tive a oportunidade de ter contato com ela, cheguei ao meio tarde demais, quando ela já havia se tornado uma pessoa triste, deprimida, solitária e colecionadora de animais.

Todas as pessoas que tiveram a oportunidade de conhecer a Angela afirmam que ela sempre teve bom coração e durante muitos e muitos anos agiu da forma correta e razoável: resgatando, cuidando, castrando e doando.

Infelizmente, devido a uma série de acontecimentos pessoais tristes, a Angela acabou perdendo a sua credibilidade no meio da proteção e finalmente terminou sua existência cercada pelos seus 86 animais e só. Nem família por perto e poucos amigos apenas.

Nada lhe restava mais. Nem vaidade, o que ela antes tinha, nem dinheiro, nem sapatos, nem alegria de viver exceto por eles.

Uma coisa no entanto ela carregou pra sempre, o amor por todos estes animais que ela acolheu e fez de tudo sempre para manter cuidados, alimentados e felizes.

Se você ainda não ouviu falar a respeito deste problema de Colecionismo de Animais, aqui abaixo está um texto escrito por um psicólogo, explicando do que se trata, como surge, como é identificado e como deveria ser tratado e abordado.

Na prática a maioria das pessoas que sofrem deste transtorno possuem poucos recursos e a quem recorrer. É um poço sem fundo e foi para lá que a Angela foi antes de falecer.

O ponto principal desta introdução toda é chegar aos animais que ela abrigava na Chácara da Gata Preta – seu recanto em Ibiúna, interior de São Paulo.

Com o seu falecimento, houve comoção por parte de pessoas como eu e vc, que visitaram a chácara e puderam ver de perto o sofrimento tanto da Angela, quanto dos seus filhinhos.

Falta de recurso, higiene precária, muitos animais doentes, subnutridos, desidratados, carentes de carinho e atenção (por mais que ela amasse demais cada um deles, quem consegue dar atenção para 86 ao mesmo tempo?).

Animais que nasceram em gaiolas e permaneciam em gaiolas desde então, há meses, animais sem conforto para dormirem, se aquecerem neste inverno horroroso que estamos vivendo, sem nada e agora sem ela...

Eu sempre insisto que nós temos que ter freio. Como disse uma sábia do meio, todas nós, protetoras, temos um pé no colecionismo, porque onde cabe um, cabem dois, onde cabem dois, cabem três e a conta vai crescendo. Todas temos que nos vigiar...

Temos também que compreender que não seremos eternas, então para que adotar um novo filhote aos 79 anos, por exemplo? Porque ter 18 gatos em casa (mesmo que próprios) se corremos o risco de morrer antes deles? Temos que prever em vida o que será feito com eles no caso de nossa morte. Vc aí já parou para pensar nisso?

Pois bem, nenhuma ONG pode acolher estes 86 animais, é claro, mas pessoas lindas estão cada vez mais se unindo e assumindo a responsabilidade de prover e encaminhar estes animais.

Existe uma página no Facebook com fotos, informações e toda a lista de necessidades que possuem no momento. Jantar beneficiente para arrecadação, rifa e outras formas de ajudar estão sendo criadas e desenvolvidas e tudo o que precisamos agora é seu apoio!

Contribua, por menor que sua contribuição possa lhe parecer (para quem não tem nada, pouco é muito e de pouco em pouco é que tudo acontece mesmo).

Compartilha este caso com quem vc sabe que pode querer ajudar. Precisamos tirar estes animais destas condições precárias para sempre, precisamos dar um futuro e um final feliz para eles e precisamos honrar o trabalho, dedicação e abnegação de uma pessoa que escolheu por fim viver por eles e para eles.

Veja aqui uma matéria que a Record fez a respeito do caso.

Clique aqui, conheça e curta a página dos Amigos da Chácara da Gata Preta. 

Aqui algumas fotos de um mutirão de limpeza e "reconhecimento" dos animais, em 27.07 - fotos da amiga Carol Benitez.

Antes da Faxina - parte da chácara

caixa de "areia" 

"oin. vc veio me ajudar?"

branquinho doentinho

cachorrinhos unidos

fofuro

"to com fome, to fraquinho"

"sou uma lindeza e preciso de uma casa"

"tb sou uma lindeza diferentona que precisa de uma casa. aposto que cara mais linda que a minha vc não conheceu ainda!"

pretinho muito doente

caminha dos gatinhos

uma senhorinha fraca, faminta e sarnenta - gritando SOCORRO com o olhar.

nasceram em gaiolas e por lá continuam

Sobre o Transtorno de Colecionismo de Animais, por Tiago Villano - psicólogo e gateiro.

"Hoarding (colecionador de animais) é uma patologia psiquiátrica, que é caracterizada por uma excessiva acumulação e retenção de animais até eles interferirem no dia a dia, como o cuidado com a casa, saúde, família, trabalho e vida social.

É uma doença da família do tipo obsessivo compulsivo, porém pode também ser relatada como transtorno do controle do impulso, que são: 

• comprar compulsivamente; 

• depressão; 

• ansiedade social; 

• transtorno bipolar.

Há os acumuladores de coisas e os acumuladores de animais. 

Os acumuladores de animais, (animal hoarders), são pessoas que necessitam de cuidados psicoterapêuticos e psiquiátricos, porém há pouca literatura médica a respeito. 

Essas pessoas tem dificuldade em pensar racionalmente, tomar decisões básicas e de tomarem conta de si próprios, juntamente com os animais. 

Algumas estatísticas interessantes a respeito:

 • 76% são mulheres.

 • 46% têm 60 anos ou mais. 

• A maioria é de pessoas solteiras e mais da metade vive sozinha. 

• Em 69% dos casos, fezes e urina de animais estavam acumuladas nas áreas sociais da casa. Em mais de 25% dos casos, a cama do acumulador estava suja com fezes e urina. 

• Animais doentes ou mortos foram descobertos em 80% dos casos relatados, ainda que em 60% dos casos os acumuladores não reconhecessem o problema.

Muitas podem ser as causas: conflitos, traumas, culpas, angústias, problemas de relacionamentos, etc.

Como diagnosticar? Simples. A qualidade de vida dos animais e de si mesmo é um indicativo. 

A pessoa geralmente possui um grande número de pets – na maioria das vezes, cães e/ou gatos – e não garante as necessidades básicas de todos eles como alimentação saudável, higiene e cuidados médicos. 

A pessoa geralmente não entende ou não quer enxergar a deterioração da higiene, da saúde dos animais e do ambiente em que vivem, ou seja, qualidade zero. 

Também podem se mostrar incapazes de dizer “não” para a chegada de novos animais, mesmo que a situação já esteja impossível. A pessoa tende a esquecer de si próprio em meio a sua compulsividade e não admite geralmente ter esse conflito por parte de uma pessoa de fora. 

O tratamento e a ajuda de familiares é importrantíssima, junto com ajuda de psicólogos e médicos."

Se vc conhece alguém sofrendo deste problema, não vire suas costas, não feche seus olhos. Ajude e procure ajuda!

Dr. Tiago Villano, psicólogo Clínico e Hospitalar - tel. (11) 5571.9055