Ontem, navegando pelo meu perfil do Facebook
para rever as opções de segurança, encontrei o primeiro apelo que fiz na vida,
há dois anos atrás, para 3 gatinhas que viviam em um banco no Bom Retiro e que
um dia notei estarem suuuuuper grávidas.
Foi bastante emocionante e me deu vontade de
contar para vcs sobre como eu vim parar aqui! Rsrsrs
Relembrei este primeiro resgate e tudo o que aconteceu com ele, todas as dores que senti e sinto e todo o aprendizado que veio a seguir.
Eu nunca tive nenhum gato próprio antes do
Panqueca. Desde pequena sempre quis ter um, mas o não era certo, então para
evitar a decepção de saber com certeza, nunca pedi aos meus pais.
Tive uma gata
em conjunto com meu ex namorado, mas ao nos separarmos, a gata ficou com ele.
Nunca me esqueço do amor incondicional que senti por ela no momento em que a
encontramos, jogada num túmulo, 7 metros abaixo da terra e sem possibilidade de
sair de lá. Estava abandonada para morrer de fome e sede.
A mãezinha dela rodeava o túmulo, mas não podia fazer nada pela gatinha, pois ela tb não conseguia passar pelo portãozinho do túmulo.
Ficamos uma manhã inteira ouvindo miadinhos, mas demorou até que encontramos de onde vinham.
Meu ex, ao avistar a gatinha lá dentro do túmilo não hesitou em arrancar a portãozinho e pular lá pra dentro.
Ele me esticou o braço com uma mini gatinha linda lotada de teias de aranha e com mta fome. Ela já havia desmamado, então apesar da angustia da mãezinha dela, rondando por perto, levamos a pequenina para a casa dele, pois ao menos esta teria uma chance melhor depois do pânico que viveu ficando trancafiada alí por não sabemos quantos dias. O nome que ela ganhou foi Petit, porque era mto pequenina e hoje continua sendo a Petit, apesar de imensa e gordinha. Petit está com 9 anos.
Petit atualmente - uma gorduchinha medrosa
linda duduchinha do meu coração. quanta saudade.
Petit foi amor incondicional no segundo 1 em diante. Este amor incondicional foi a primeira vez que senti e é ele que sinto por todos os animais, especialmente meus filhinhos, claro.
Pois bem, voltando ao momento em que eu mudei de vez...ao mesmo tempo em que adotei o Panqueca, fui
trabalhar em um bairro lotado de animais abandonados por todos os cantos. São
cachorros e gatos aos montes vagando esfomeados pelas ruas do Bom Retiro, em
São Paulo. Uma tristeza de presenciar, o tipo de coisa que muda uma pessoa para
sempre e foi exatamente isso que aconteceu. Durante dois anos a dor do
sofrimento, do abandono, da limitação me acompanhou ininterruptamente. Fui um zumbi.
Hoje
ainda sinto, todos os dias tb, mas cruzo menos animais abandonados nos locais
por onde ando. Longe dos olhos, "longe do coração", certo?
O Panqueca +
Bom Retiro foram divisores de águas na minha vida. Antes eu não fazia
ideia dos riscos, dos sofrimentos que um animal abandonado a sua própria sorte
numa cidade enfrentam. Eu era mais uma daquelas que passavam reto, sem nem
tomar conhecimento e que pensavam: “ah, eles se viram”.
Pois bem. Fui começando a fazer alguma
coisinha aqui, outra coisinha alí, mas totalmente despreparada e sem
conhecimento. Eu alimentava os gatinhos daquela agência bancária, assim como
outros que encontrava no caminho, mas não tinha como fazer mais nada e nem
sabia por onde começar, a quem recorrer...
O desespero por fazer alguma coisa cresceu
proporcional ao meu amor pelo Panqueca. Ele trouxe a luz que me faltava, o saber e o poder se conectar a qualquer
outro animal e as suas necessidades. O Bom Retiro me trouxe a dor, o
aprendizado, a consciência das minhas limitações, a consciência sobre a falta
de educação das pessoas em relação aos animais e sobre os equívocos básicos que
levam a adoções erradas seguidas de abandono. Gatos não foram feitos para caçarem ratos é a máxima que eu gostaria de falar para todos os donos de galpões e lojas por lá...
Pois bem, as três gravidinhas...
Tem até hoje uma colônia de gatinhos nesta
agência bancária no Bom Retiro. Inúmeros resgates foram feitos alí. Este
primeiro da minha vida foi um deles, que retirou de lá 24 gatos, mas uma única
espertinha ficou para trás e esta única espertinha está lá até hoje, tendo
ninhada atrás de ninhada. Não há laçador, não há gatoeira ou armadilha que
pegue essa gata. :(
Este primeiro resgate foi o primeiro grande na verdade, porque Petit e Banzé já existiam nesta altura.
Depois do meu pedido desesperado no Facebook e
de uma troca de e-mails com a Juliana, uma das fundadoras do Adote um Gatinho,
ela me autorizou a levar as 3 mamãezinhas para lá. Resgatei uma com seus 6
filhotes em um dia, a Amora, o restante foi resgatado pelo laçador no dia
seguinte.
Estes resgates trouxeram para a ONG os fofos
abaixo:
Amora e seus 6 filhotes.
Arthur e Lancelot – estavam escondidos dentro
do gerador de energia do banco. Nunca os tinha visto antes deste dia.
Shrek e Fiona ou Caveira e Princesa como eu os
chamava na rua. Eles eram os mais chegados. Me paqueravam de dentro do banco,
pediam carinho e viviam por alí, inocentes, brincando no jardim e esperando a
comida chegar.
Thomas – um gatão macho tigrado que tb não
conhecia antes e aqui assustado com a Porcina, tb apavorada.
Porcina, que foi resgatada sozinha e por estar
redondinha, a gente achava que não tinha parido ainda. Ela já tinha parido sim,
estava maluca de dor com o leite empedrado e mto assustada. Seus 4 bebês
chegaram 4 dias depois, quando uma outra pessoa que cuidava dos gatos de lá
avisou que estava com eles e que tínhamos levado a mãe sem seus filhos. Um
horror, mas um milagre ao mesmo tempo.
Tapioca e seus 6 filhotes
Deste dia em diante nunca mais sai do Adote um Gatinho (ONG pela qual sou grata por ter nos acolhido naquele momento, por ter me ensinado tanto e por me permitir fazer parte do seu quadro de voluntárias). Não podia assumir os custos de tantos animais (e acho que nem a ONG na
época – quase fali o AUG...brincadeira!), mas não queria jogar simplesmente a
responsabilidade nas costas de ninguém, ainda mais porque eu já amava cada um
deles como se fossem meus. Foram meses alimentado, fazendo carinho pela grade,
brigando com o gerente do banco para me deixarem entrar no jardim e cuidar
deles, resgatar, etc.
Infelizmente este resgate de 24 gatos terminou
com a morte de 15 deles. Amora e 4 dos seus bebês, Porcina e todos os seus
bebês, 4 filhotes da Tapioca e alguns meses depois o Thomas tb se foi.
Foram motivos diversos. Eles estavam
debilitados da vida de rua e amamentação no caso das mamães. Gripes que viraram
doenças mais sérias, infecções nas tetinhas e PIF tb.
O dia em que recebi a notícia da morte deles (que foram mais ou menos ao mesmo tempo, exceto peo Thomas, que ficou um tempo no abrigo até desenvolver PIF, a pior doença de todas) foi um dos piores da minha vida até hoje.
Ainda hoje, inclusive, as vezes olho
pro céu, pra onde sei que eles foram, e choro e peço desculpas. Na rua eles
estavam sobrevivendo. Morreram sob minha responsabilidade. Morreram porque interferi em suas vidinhas. Culpa até hoje,
gente...muita culpa.
Depois disso fui me especializando. Aprendi a
resgatar adequadamente (até porque neste meio tempo já tinha resgatado o Banzé
e feito tudo errado! Rsrsrs), aprendi a lidar com eles, aprendi como posso
ajudar, mas ainda não aprendi a lidar com as minhas limitações e nem aprendi a entender que as pessoas são assim, abandonam como se fossem paninhos velhos e encardidos...
Na verdade queria acima de tudo relembrar
estes gatinhos tão especiais para mim.
É a primeira vez que falo sobre eles
depois de tudo e sinto vontade de chorar. Foi a primeira vez que tive coragem realmente...
Deus quis que meu aprendizado fosse
assim e acho que hoje já aprendi muita coisa mesmo. Já entendo que abrigo é
melhor que rua, mas não é ideal. Já entendo que não podemos salvar a todos
(apesar de doer por isso), entendo que eles morrem (apesar de não poder nem
pensar por meio milésimo de segundo sobre a morte dos meus) e entendo que muitos
infelizmente morrerão sem conhecerem a vida boa do amor verdadeiro, do cuidado
e da proteção que merecem.
Que meus lindos bebês do Bom Retiro estejam
felizes onde quer que estejam.
Desta turma Fiona e Shrek foram muito bem
adotados e sempre me mandam notícias - no dia que fui entregar os dois para os adotantes, encontrei o Coicoi - até participaram com sua mãe do “A Vida com
Gatos”- clica aqui para ver.
Arthur e Lancelot foram os primeiros a serem
adotados e juntos, mas nunca tive notícias.
Tapioca tb foi bem adotada, mas não
sei dela há tempos e os filhotes que sobreviveram da Tapioca e da Amora tb
foram adotados, mas nunca soube por quem pq eles foram para lares temporários e
não ficaram no abrigo.
Pois é, gente. Destes fatos em diante cá estou: a louca dos gatos, a ativista, a radical, a fanática que só quer dedicar tempo aos animais dentre outros tantos adjetivos que estou recolhendo pelo caminho.
Cá estou me sentindo um pouco mais útil, um pouco melhor, um pouco mais sofrida e desencantada com os seres humanos em geral, mas um pouco mais consciente tb de que o bem existe e conhecemos ele através do mal, infelizmente.
Cá estou tentando ajudar a mudar a cabeça das pessoas, ajuda-las a entenderem o que significa amar um animal, cuidar e assumir responsabilidade por eles.
Cá estou tentando despertar uma chaminha dentro de cada coração, dizendo que todo mundo pode um pouco e que o meu pouco complementa o seu pouco e nosso pouco junto salva vidas.
Que Deus nos ajude, né?!
Beijos e obrigada por tudo que vcs me trazem. Sou relapsa em responder comentários, em atualizar este blog, mas tenho mto carinho por cada um de vocês que me acompanha, que me estimula, me dão forças e me fazem querer continuar...
Obrigada, obrigada, obrigada.
E pra finalizar, uma música que me enche e preenche de tudo quanto é sentimento bom neste mundo e que me faz chorar, mas com esperança...
"Underneath this smile lies everythingAll my hopes and anger, pride and shame
Make myself a pact,
not to shut doors on the past
Just for today I am free
Just for today I am free
I will not lose my
faith
It's an inside job today
It's an inside job today
I know this one thing
well,...
I used to try and kill
love, it was the highest sin
Breathing insecurity out and in
Breathing insecurity out and in
Searching hope, I'm
shown the way to run straight
Pursuing the greater way for all human light.
Pursuing the greater way for all human light.
How I choose to
feel,... Is how I am.
How I choose to feel,... Is how I am.
How I choose to feel,... Is how I am.
I will not lose my
faith
It's an inside job today
It's an inside job today
Holding on, the light
of night
On my knees to rise and fix my broken soul
On my knees to rise and fix my broken soul
Again.
Let me run into the
rain
To be a human light again
To be a human light again
Let me run into the
rain
To shine a human light today
To shine a human light today
Life comes from within
your heart and desire
Life comes from within my heart and desire
Life comes from within your heart and desire"
Life comes from within my heart and desire
Life comes from within your heart and desire"
Estou segurando as lágrimas pois estou no trabalho rs. Não sou tão engajada como você, mas tento ajudar do meu jeito. Acredito que se todo mundo fizer um pouquinho, da forma que puder, já terá valido a pena. Eu também não posso imaginar o dia em que meus filhotes tiverem que ir pro céu dos gatinhos porque, assim como você, com a adoção do Darwin e do Juca, eu aprendi o significado do amor incondicional.
ResponderExcluirBeijos
Karina, o fato dos seus gatos serem adotados e de vc sempre ajudar em campanhas como o jantar beneficiente da chácara da gata preta e outras ações já te tornam uma pessoa engajada!
Excluir:)
sei também que vc apadrinha gatinhos no AUG (sou eu quem atualiza os cadastros dos padrinhos com os lançamentos dos valores e datas de doação! hihi) e tudo mais, ou seja, vc está fazendo a sua parte, sim e sei que quando puder, fará mais.
infelizmente ainda não conseguimos nos encontrar pessoalmente, mas já sei que vc tem bom coração!
;)
ExcluirSua história é linda! Também segurei as lágrimas aqui. Gostaria de poder ajudar mais, mas as vezes acabo não conseguindo fazer tudo que quero.. por vários motivos... Hoje eu tenho duas gatinhas lindas que me mostram diariamente o que é o amor incondicional, e antes dela, tive uma princesa que viveu ao meu lado durante 18 anos... o momento em que ela partiu me levou um pedaço junto. Mas tenho certeza que ela me olha lá de cima, com muito amor, assim como esses gatinhos olham você!
ResponderExcluirE parabéns pelo envolvimento na causa dos animais, fico muito feliz em saber que pessoas assim ainda existem e se preocupam... fica aquele sentimento bom de que nem tudo está perdido...
Bjs e fique c Deus
obrigada, amiga V.
Excluir:)
adorei a perspectiva de que essa turminha me olha lá de cima. <3
Que historia linda minha querida, não pude evitar as lagrimas, mas quero te dizer que tenho orgulho de saber que existe um ser tão especial como vc, e que com certeza vc é um anjo para muito desses seres maravilhosos que encontraram em vc uma vida digna da qual merecem viver... Parabens minha linda por esse trabalho e dedicação, qdo eu crescer quero ser igual a vc ainda nao atingi esse grau mas quero muito ser para esses anjos oq vc é... Que Deus te ilume e te muita força para continuar nessa luta... Parabens!!!
ResponderExcluirObrigada, Adriana!
Excluireu bem sei que vc, junto com a linda da minha cunhada, está fazendo a diferença por aí.
:)
que Deus te abençoe muito e te dê sempre os meios de ser um veículo da bondade e amor dele.
os bichinhos que cruzam diretamente nosso caminho são um presente dele e pessoalmente temos uma responsabilidade com cada um. vc não está fugindo!
beijão
Minha querida May, que história linda!!! Estou super emocionada aqui. Você é um anjo!!! Quero ser como você na luta pelos bichinhos. Hoje tenho investido uma parte do meu tempo em conversas com as crianças do bairro e dos que são amiguinhos do Guilherme. Mostro a eles que não podemos maltratar os animais, que podemos oferecer comidinha e água, que a situação deles nas ruas é muito ruim, que eles sofrem bastante, enfim... penso que o que plantamos no coração dos pequeninhos espero que levem a boa lição para a vida toda. É como a amiga Karina bem falou se cada um fizer um pouco que seja já terá valido a pena. Com os meus gatinhos eu também aprendi muito e ainda aprendo, assim como aprendi muita coisa com você. Que Deus te ilumine sempre, muita saúde e sabedoria, pois sou grata a Ele por ter conhecido uma pessoa tão querida e de coração nobre. Força minha amiga!!! Estamos todas juntas nessa luta!!!
ResponderExcluirquerida amiga suyane, vc é um anjo tb. o que vc está fazendo é mto importante e necessário. precisamos começar a mudar a mentalidade dos pequeninos mesmo, para que eles levem para casa o conhecimento que os adultos não absorvem sozinhos e para que eles cresçam pessoas melhores e mais solidárias.
Excluirvc está fazendo um excelente trabalho, vide a mamãezinha grávida que não está na rua com seus filhotes e vide seu Gui, seu Simba e seu Cascão.
amiga, estamos juntas mesmo. força pra nós!
obrigada pelo apoio de sempre. vc me dá mta força, sabia?
bjs
Fiquei emocionada com a história da Petit. As outras histórias tbm são emocionantes.
ResponderExcluirrealmente, é um amor que criamos por eles que não tem nem como explicar.
Parabéns por sua atitude.
Beijos
Nossa, foram muitos gatos, May!! Acho que se cada um ajudasse como você, não teríamos mais nenhum gato abandonado!! Mas acho que o mínimo do mínimo,todos deveriam fazer: evitar comprar animal, castrar, não abandonar, não praticar criatório de fundo de quintal. Ah, não gosta de bicho, prefere gente? Tá certo, cuide então da sua creche, do seu asilo, e pelo menos pratique o respeito a todas as criaturas! Já é alguma coisa, né?
ResponderExcluirAdorei seu relato!!
Beijinhos!
Loucas dos gatos, uni-vos! Não importa do que nos chamem, desde que a gente saiba que está trabalhando pela vida e, como eu costumo dizer: vida é vida, não importa de que tipo e espécie.
ResponderExcluirOi May, tudo bom? Não nos conhecemos mas depois de ler o seu texto senti que era necessário deixar um comentário aqui, não sei se você vai visualizar, mas espero que sim!
ResponderExcluirBom, achei o seu blog por que estava pesquisando sobre gatinhas lactantes no google, e quando cliquei em imagens me deparei com uma foto dos meus filhos: Arthur e Lancelot! Minha surpresa maior foi clicar na foto e encontrar e esse texto e descobrir um pouco mais sobre a história deles. Fico muito feliz que o resgate deles tenha sido tão importante pra você e que tenha te iniciado nesse trabalho tão legal que a AUG faz! Gostaria de te agradecer, graças a você hoje eles tem uma caminha quentinha pra dormir e uma família que é extremamente apaixonada por eles! Se você tiver curiosidade, me manda uma mensagem que eu te envio fotos deles.
Beijos!